Tinha eu meus quatorze anos e já me arriscava ao primeiro emprego, não sabendo que estava indo ao encontro do primeiro fardão da minha vida. Fui indicado por um amigo da família a fazer um teste no Jornal do Commércio, um tradicional matutino que já rodava em nossa Cidade há mais de cento e vinte anos. Bastante feliz com a Carteira Profissional de menor em punho, aquela de cor vermelha, aquela mesma que era fornecida aos menores de idade, fiz o meu primeiro deslocamento ao Centro da Cidade, precisamente ali na Avenida Rio Branco, esquina da Rua do Ouvidor, que naquela ocasião, representava o mais famoso Centro Comercial do Rio de Janeiro, onde eu seria entrevistado pelo Sr. Amadeu Andréa, que na época era o administrador geral do tão respeitado periódico. Fui bem atendido na entrevista e imediatamente fui contratado para a função de office-boy. Minhas funções iam desde o atendimento do telefone à ajuda na conferência e transcrição do livro caixa, controle dos assinantes do Arquivo Judiciário, revista de publicação mensal e distribuição do Código de Processo Civil e Código de Processo Penal. Também teria a responsabilidade de expedição dos periódicos mensais para todo o Brasil, através dos Correios. Deveria também fazer a entrega dos serviços de faturamento a domicílio e a datilografia de toda a correspondência, bem como o atendimento direto ao Dr. Elmano da Cruz Cardim, Diretor e Redator-chefe do Jornal. Eu ficava à disposição do seu chamado a cinquenta metros de distância do seu Gabinete, atento ao som da campainha que poderia tocar a qualquer minuto. Num determinado dia, a campainha disparou, e eu , que ainda nem o som dela conhecia, fiquei estático e pensativo sobre como seria o toque da campainha. Era de um som muito estridente, percebi quando fui alertado pela Dona Herondina, a Sub-chefe da Administração, que me passava os serviços externos, dizendo-me:- oh! Menino, a Diretoria está te chamando! Vai logo, o Dr. Cardim não gosta nada de esperar. Levantei-me correndo da cadeira e parti em direção ao Gabinete da Diretoria. Atravessei a sala da gerência, onde ficava o Dr. Romeu Ribeiro, passando pela sala de reunião e cheguei finalmente, ao Gabinete do Diretor. Ao entrar, notei que estava com a cabeça baixa e, assim permaneceu dizendo-me:- traga-me água e café para dois(ele não estava só), e tinha ao seu lado uma linda dama da sociedade, e o que mais me impressionou, foi o seu traje: Um fardão negro, bordado com galões dourados fechado na altura do queixo. Voltei correndo à administração e iniciei o preparo do café. Pensativo estava, quando a dona Herondina me falou:- tem medo de alguma coisa? Eu disse:- não senhora, me assustei com o fardão que ele veste. Aí ela disse:- nunca viu aquela roupa? Eu respondi:- não! Ela então replicou: - vá se acostumando, vez por outra ele aparece vestido assim, pois é um dos imortais da Academia Brasileira de Letras e esta não será a última vez que virá trabalhar, porque às vezes, não tem tempo de trocar de roupa vindo direto de lá. Assim fui me acostumando, e passados alguns meses, fiquei responsavél pela datilografia de toda a sua correspondência para o exterior. Ele tinha amigos em quase todas as partes mundo, e com isto o meu trabalho de menino começava a ficar muito importante.
SANTO ANTÓNIO ou O AMOR SECRETAMENTE PEDIDO
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Instintivamente somos impelidos ao Outro, somos impelidos à comunhão, está
inscrito na nossa constituição como seres humanos que *só somos com o
Outro! *...
Há 5 meses
Pensei em quantos "fardões" nos deparamos ao longo de nossa vida e o quanto aprendemos nesses confrontos das mais diversas ordens! Para um menino deve ter sido assustador e ao mesmos tempo curioso! Um princípio de traduções de códigos, de conversões internas para aumentar o repertório de significações humanas.Grande abraço.
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