Meu pai me contou que existia no interior de Pernambuco uma família de lavradores assentados, cuja prole era por demais desenvolvida e a todo momento, nascia uma nova criança, para o patriarca-chefe, que tinha como rótulo, o nome de Crescêncio da Vida no Campo.Era um homem forte, de muita fé, pouca cultura, muita saúde e dono da maior dose de otimismo.Segundo soube, buscava sempre novos motivos para dar o nome de batismo aos seus filhos, dentro dos seus preceitos de crença, para transferir a cada filho com otimismo, a nova vida que ali desabrochava.Ele era um cidadão muito conhecido e respeitado e observado pela maneira simples e sadia que avaliava a sua vida.Excelente trabalhador, homem de pulso forte, tinha por única distração, ouvir um pequeno rádio de pilha, para se atualizar com as notícias do campo e que por certo, reciclariam as novas alternativas do seu trabalho na agricultura.Só assim, acreditava, poderia enfrentar os males das doenças comuns, na sua pequena roça, pobre de recursos hídricos e sem nenhum apoio governamental.Era possuidor de uma prole altamente otimista, com nomes bem caracterizados.Mesmo não sendo conhecedor de numerologia, que hoje em dia, se faz presente na vida de muitos famosos artistas, empresários e políticos, o Crescêncio sabia aplicar os prognósticos da boa-sorte aos seus filhos,através dos nomes de batismo.À primogênita, chamou ESPERANÇA!,À segunda,CONQUISTA!,À terceira,SEGURANÇA!,À quarta,FLORESCIDA!,Ao quinto,CHUVISCO!,Ao sexto,BROTADO!,Ao sétimo,COLHIDO!,Ao oitavo,ENSACADO!,Ao nono, VENDIDO!,Ao décimo,COBRADO!,Ao décimo primeiro, RECEBIDO! eAo décimo segundo, DEPOSITADO!Fiquei surpreendido com o otimismo daquele brasileiro que teve esperança e usou todos os critérios de nomes,para que o levasse e aos filhos, ao sucesso no seu trabalho no campo.Acredito eu que nos dias de hoje, ele deve estar cercado apenas dos nomes otimistas do seus filhos, mas deve viver amargurado e preocupado, pois o nosso Governo destruiu o sonho dos otimistas, a esperança da conquista, a segurança florescida, o chuvisco do brotado, apodrecendo o colhido e ensacado, o vendido e não cobrado, e que do jeito que vai indo, nunca deverá ser depositado.Pobre homem, otimista, num país sem clima de conquistas, num país de governo do papofurado, que só faz com que pensemos em usar apenas a nossa preguiça.
(Jorge Queiroz- dezembro/2009)
Fonte da imagem:dannidistler.wordpress.com
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