Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Um português do barulho

Conheci um lusitano teimoso, convicto e endiabrado cujo nome de guerra era “Lomba” . E quanta coisa interessante esse gajo me passou!... Vamos dar aqui uma ordem aos fatos mais interessantes que até hoje, sobrevivem em minha memória.Chegou ao Brasil por volta de 1976, logo após a Revolução dos Cravos em Portugal ocorrida na década de 1975. Ele fazia parte do “staff” do mais famoso empresário para quem trabalhei , que veio para o Brasil se estabelecer como industrial, banqueiro e pecuarista. Mas, vamos ao Lomba. O Lomba na verdade, lá em ‘Leiria’ tinha como função, ser o responsável por todo o serviço de capatazias nos principais portos de Lisboa, Leiria ou Cidade do Porto. Pela grande responsabilidade do seu trabalho em Portugal e como todas as empresas do meu patrão haviam sido encampadas pelo governo revolucionário, deixou o pobre Lomba, assim como outros famosos executivos, sem função específica. Daí então, serem trazidos para o Brasil para ocuparem cargos correlatos no Grupo onde eu trabalhava já há quase três anos. Conto aqui o primeiro episódio: Estava eu em minha sala de trabalho, quando o Presidente do Grupo, entrou acompanhado do Sr. Lomba, dizendo-me: - aqui está uma pessoa de alto “”valore”” para o nosso grupo. Trata-se de um gajo muito entendido em coisas do porto, nos embarques e desembarques das importações e exportações. Ligue-se a ele e terás um bom conselheiro em outras “”coisitas”” mais. Então, eu muito atencioso, puxei uma cadeira para o Lomba dizendo: - senta aí para a gente conversar. Logo em seguida, arrependi-me do que disse, pois ele se sentou e foi logo disparando : as coisas aqui não devem ser muito diferentes das de lá. Vai ser muito fácil para mim, e o meu primeiro teste, vai ser desembaraçar a minha própria carga de mudança para o Brasil. Aí sim, eu ficarei senhor da situação. E continuando, me fez outras solicitações, sobre visto de passaporte, carteira de identidade, carteira profissional, cartão do imposto de renda, bairros onde poderia residir no rio, conta bancária,etc... Eu, muito à vontade , escrevi todas as informações para ele colocando-me às ordens para qualquer outro problema no futuro. Não passou tanto tempo assim , quinze dias após, vem aí o primeiro entrevero da era Lomba: Recebo um telefonema da empresa Nicolau Hayes , me perguntando se trabalhava comigo um indivíduo com o nome de Lomba. Respondi afirmativamente e me disseram espantados, do outro lado da linha, ele é louco!... Então eu disse: - não o conheço bem ainda, ele chegou a menos de quinze dias no Brasil. Tornaram a me perguntar: - esse gajo está mudando para o Brasil? Respondi que sim, e eles, deflagraram a ira profissional, dizendo indignados: - você sabe que ele está trazendo uma carga de quase duzentas caixas, e que a maioria delas contém armas, revólveres, carabinas, metralhadoras, espingardas, marfins de elefantes, peles de onças, etc, etc...? Fiquei traumatizado com aquela informação, peguei imediatamente o telefone, ligando para o Lomba e dizendo: -estamos num impasse, a nossa alfândega aqui no Brasil, não está aceitando o desembaraço da sua carga de mudança, uma vez que, a sua carga de móveis e utensílios está sobrecarregada de armamento . Ele tranqüilamente me respondeu: -eu não te contei que eu era caçador em Portugal? Então, eu respondi ao Lomba que caçar no Brasil é bem diferente do que caçar em Portugal. Ainda por cima, estamos vivendo a ditadura militar, vai ser impossível o desembaraço de sua carga. Prontamente, ele respondeu:- “”ai ééé...””? então mande jogar minhas armas ao mar! Este foi primeiro teste do Lomba como despachante alfandegário no Brasil, um verdadeiro fiasco! Mas não paramos por aí não, veio o segundo entrevero: A esposa do Presidente do Grupo iria fazer uma viagem à Lisboa e solicitou ao Lomba que queria levar com ela o automóvel Passat, último tipo, comprado no Brasil, para mostrar aos seus amigos portugueses. Lomba muito obediente,por sinal, veio até mim e disse: - tenho que despachar o Passat da esposa do nosso Presidente para Portugal, ela quer levá-lo na viagem de férias, o que tu achas ? Eu lhe disse que era impossível e ele continuava insistindo: - mas a palavra de meus patrões valem muito, eu vou despachar o carro assim mesmo. Eu fiz um alerta:-você vai ver o preço deste despacho depois... Quando recebi as notas de capatazias para pagar, fiquei indignado e disse :- sabe você, quanto custou esta brincadeira? , ela ficou em mais de oitenta por cento do valor do carro, só de taxas alfandegárias. Essas despesas ficaram a débito de sua conta pessoal. Mas ainda não paramos por aí, vamos continuar com as histórias do Lomba... Após a volta da esposa do Presidente, que residia em uma das fazendas do Grupo, na Fazenda Três Rios, no Município de Unaí, ela necessitou de um novo trabalho, e pediu ao bravo Lomba, que fizesse o transporte de uma máquina de lavar roupas para a Fazenda,em caráter de urgência. Prontamente o referido serviçal a atendeu, amarrando a máquina de lavar ao teto daquele mesmo Passat, (o tal carro que foi passear em Portugal) e saiu viajando pelas estradas de barro, em direção à Fazenda, esquecendo de um pequeno detalhe importante: aquele tipo de estrada é por demais acidentado e isto causou ao teto do carro um afundamento natural a cada balanço, no percurso da viagem. Em dado momento ele começou a sentir um peso em sua cabeça, olhou para cima e viu que tratava-se do teto do carro. Na realidade, ele conseguiu obedecer a ordem da patroa, mas em compensação , o carro no seguro, após a consulta de sinistro que fiz a corretora, pelo laudo de verificação, foi enquadrado como “perda total” . Vamos seguindo com as histórias do Lomba, e vamos recordar que ele já estava no Brasil há pouco mais de um ano, quando perguntou-me: - que praia no Rio de Janeiro dá maior tranqüilidade para a família? Eu respondi: - “Grumari. Perguntou-me como se chegava até lá e eu informei: - pela orla marítima, passando pelo Recreio em direção a Guaratiba. Por curiosidade, lhe perguntei qual era o seu carro e ele me disse ser um Galaxie 1968. Chamei sua atenção para o custo de combustível daquele carro, que era muito alto, fazendo apenas três quilômetros com um litro de gasolina, mas ele respondeu que preferia aquele carro para levar toda a família de uma única vez e que com o dinheiro que economizasse da prestação na compra de um carro zero, abasteceria o Galaxie tranqüilamente, durante o mês inteiro. Dias depois, eu fiquei sabendo que ele foi a Grumari com a família, no possante “Galaxie 68 “, só que retornou para casa rebocado. Esta não foi a última história da era Lomba, mas seria uma série muito maior, se eu estivesse ainda junto dele até os dias de hoje. Mas para finalizar, vou contar a que acho mais hilariante. Num determinado dia me encontrava no gabinete do Presidente atendendo a um chamado e de repente entrou pela porta, esbaforido e totalmente nervoso, o famoso Lomba. O gajo muito aflito, iniciou na sala do patrão uma caminhada, frente à frente, a mesa do Presidente. Ia para lá e voltava para cá, repetindo muitas vezes este trajeto. O patrão já irritado com aquela estranha movimentação, levantou a cabeça e dirigiu os olhos ao Lomba, dizendo em bom tom: - oh ! Gajo! Senta aí! Tu assim , estás me colocando nervoso! Aí então para minha surpresa, verifiquei que ele havia ingressado na sala, portando um cigarro aceso, e como era pessoa que respeitava demais o patrão, ficou andando de lado para o outro, para que o patrão não percebesse que ele estava fumando, uma vez que o Presidente era uma vítima do cigarro, sofria de um enfisema pulmonar. Então bruscamente , ele amassou o cigarro na palma da mão e o colocou rapidamente no bolso de sua camisa. Só que ele não teve muita sorte...vestia uma camisa de seda pura e o cigarro inflamou no seu bolso começando a sair fumaça,quando o nosso grande chefe percebeu. Aí então gritou bem alto: oh! Gajo ! Estás a ardere! Eu então não suportei e fiquei rindo sem parar, pois nunca tinha visto uma piada de português ao vivo e a cores.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

As próximas vítimas, o cigarro e a bebida !

Confesso que não sou nenhum fumante, nem beberrão inveterado, mas de todo não apóio a campanha deslavada, que vem sendo feita, contra esses dois hábitos comuns da humanidade. O Governo tem que arriscar, mesmo sabendo que esses dois vícios que não contribuem para a economia na área de saúde e levam uma infinidade de pessoas, a lotarem as enfermarias dos hospitais públicos e privados, e ainda provocam desajustes familiares, afetam em muito a produtividade do nosso país.Tenho alguns exemplos em minha família. Meus tios num total de 8 filhos, por parte de minha mãe, todos sem exceção foram vítimas do fumo e da bebida, e quantas outras famílias, também não foram atingidas?Mas temos que nos preparar para educarmos os nossos filhos a não beberem e a não fumarem. Existe o lado engraçado da coisa, como exemplo, a entrevista que vovô Osório deu ao Jô Soares, há algum tempo atrás, onde vimos uma figura de cento e quatorze anos de idade, que deixou de fumar aos cento e quatro anos,depois de fazer uso do cigarro, num período de noventa e seis anos.Tal usuário do cigarro ainda afirmou para o entrevistador, que não estava muito bem de saúde, porque fazia sexo quatro vezes ao dia, nas suas passadas em casa, e à noite após um dia de trabalho, queria repetir o ato, esquecendo que já havia feito. Dizia ao entrevistador que não estava bem de saúde porque sua memória não funcionava bem.Temos ainda que lembrar, que as fábricas de cigarros, representavam há uns anos atrás, a maior tributação em termos de IPI.O mercado financeiro balançava, todas as vezes, quando era previsto o recolhimento desse tipo de tributo, que levava alguns dos pequenos Bancos, a pedirem recursos ao Banco Central, para suportarem as saídas de caixa. Por sinal, a bebida também no início do ciclo industrial brasileiro, era uma das grandes divisas de tributos do governo.Naquela época, o imposto de consumo, era pago antecipadamente, para selagem dos produtos, que faziam parte do faturamento de muitas empresas. O restante do mundo, é grande consumidor de bebidas, pois o clima frio sempre obriga o seu uso, até no preparo de pratos quentes ou comidas especiais.Temos sempre que combater o fumo, a bebida, o narcotráfico, mas temos também que educar e criar um limite de consumo, que não possa afetar a saúde , a produtividade e o bom-senso de nossos filhos.Pensemos também que uma massa de profissionais, trabalha nestes dois campos e não podemos fomentar o desemprego em nosso país.Sabemos também que os números revelados pelas estatísticas nessa área, não correspondem aos índices da realidade, pois os nossos Institutos, deixam de incluir nesses cálculos, a grande população das nossas penitenciárias, que vivem improdutivamente.Os países do chamado primeiro mundo, não deixam de incluir em suas estatísticas o presidiário. Hoje, eu confesso a vocês que faço por onde, deixar de fumar e beber, mesmo socialmente, mas se realmente as fábricas de cigarros ebebidas fecharem, gerará um grande desemprego, não só nas áreas diretamente ligadas, como também, a outros determinados setores, como sejam, o do papel, das tintas, do papelão, do consumo energético, etc...Assim como, vai ficar profundamente sem graça, quando necessitarmos ir a um Centro Espírita para uma consulta, e verificarmos que os Pais de Santos, não fumam e nem bebem!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Chover no molhado

Como estou cansado de ouvir coisas do tipo: “” eu sou do tempo em que as crianças colocavam os seus sapatinhos na janela...”” “”que usar um pé de coelho dava sorte...”” “”que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher...”” “”que duro com duro , não faz bom muro...”” “”que a esperança é a última que morre! ... “”que quem náo gosta de samba bom sujeito não é!...”” “”que aqui se faz , aqui se paga...”” “”que o bom cavalo se conhece pelos dentes...”” “”que Deus ajuda a quem cedo madruga...”” “”que quem conta um conto ganha um ponto... “” “”que quem pagou para ver...”” “”que faça por ti, que eu te ajudarei...”” “”que mais vale um pássaro na mão, do que dois voando...”” “”que o tiro saiu pela culatra...”” “”que de músico , poeta e louco, todos nós temos um pouco...”” “”que a verdade é para ser dita...”” “”que sonhar não custa nada...”” “”que a felicidade é quase nada...”” “”que estou com a pulga atrás da orelha...”” “”que tudo é o destino...”” “”que o bom filho a casa torna...”” “”que poupar é garantir o futuro...”” “”que puleiro de pato é no chão...”” “”que o marinheiro é de primeira viagem ...”” “”que eu estou na sombra do boi...”” “”que onde vai a corda, vai a caçamba...”” “”que quem vê olhos , não vê coração...”” Quantas e quantas linhas eu ainda poderia escrever a respeito dos velhos ditados que pararam no tem po ? Que saudades !!! Que bom tempo aquele em que os ditados ainda valiam alguma coisa... Hoje, se o meu avô ressuscitasse, ia levar um grande susto... Jamais poderia colocar os sapatos na janela por causa dos ladrões. A esperança já faleceu... O louco já matou o poeta e músico... O stress já perturbou o sonho... A felicidade já custa mais de um milhão de dolares... A pulga já não fica mais atrás da orelha... Quem cedo madruga é otário ou pião... A vaidade já tem preço... O boi está dormindo na sua sombra e passou a ser um grande egoísta... O tiro não saiu pela culatra, mas entrou na cabeça de um de nós, pobres coitados... A mentira passou a ser a verdade... A corda não tem mais caçamba; amarraram os donos com ela... E quem deu aos pobres está, hoje, tentando receber de Deus... Quanta patifaria! Que mundo louco! Será mesmo chover no molhado...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O mau começo

Que lindo o nosso Brasil! ... Quanta terra, quantos rios, quantas matas, quanto minério, quanta fauna, quanta flora... Esse nosso país é um Eldorado de um planeta jovem. Foi descoberto casualmente. Acho eu, que Cabral , fazia exatamente uma viagem de turismo até as Índias, e, para livrar o seu berço natal do chamado lixo humano, levava consigo, diversos indivíduos condenados pela justiça portuguesa, para o exílio em terras descobertas e não habitadas. Uma forma usual e política do reinado português. E neste caminho,implantaram-se todas as linhas de crescimento do nosso grande Brasil ! A força de braço veio da África... A força técnica da Inglaterra e da Alemanha... Da França, veio o intelecto, a moda e a leitura. Assim , ficamos dependentes de acordos comerciais e industriais, que nos dominaram até há bem pouco tempo. Faço um apelo ao nosso mundo político de hoje: -não esqueçam, por favor, que nós brasileiros, não somos mais aquele lixo humano que veio esquecido nos porões dos navios. Que nós não somos só braços, somos cabeças também, e que já temos noção exata do nosso tamanho e da nossa força e riqueza. Assistimos à colonização, ao império, à República, à ditadura de Vargas, à falsa democracia, à ditadura militar, e atualmente assistimos a ”baguncracia”. Só temos lamentos... Estamos querendo ser de primeiro mundo e esquecemos que nós somos de um mundo especial, onde temos um pouco de cada raça, um pouco de cada língua e vivemos num clima especial para vida e cultivo. Já tivemos todos os exemplos para implantarmos o novo caminho: Conhecemos 30 anos de Vargas, 5 anos de Dutra, 5 anos de Juscelino, 9 meses de Jânio, 24 anos de ditadura militar, 4 anos de Sarney, 2 anos de Collor, 3 anos de Itamar, 8 anos de Fernando Henrique e tantos mais de Lula.Somando todos esses anos, concluímos que nada mudou até agora... As afirmações continuam sendo as mesmas, a nossa moeda é fraca, a nossa produtividade é baixa, a corrupção é ativa, as nossas dívidas interna e externa são altas, o desemprego é constante, a nossa Amazônia é desprotegida, a segurança não existe, a educação e a saúde são fracas, o crime se estabelece em crescimento, a moradia é carente, a poluição aumenta, o desmatamento é criminoso, a justiça é lenta, o saneamento é falho, as medidas provisórias se firmam e se tornam definitivas...Afinal, Brasil ! Vamos ou não vamos, chegar lá? Não precisamos copiar o modelo chinês, pois não iremos construir uma muralha de pedras, mas vamos definitivamente construir uma muralha de inteligência, fazer uma divisão racional das tarefas, quem sabe retrocedermos até os tempos da colonização e iniciarmos agora, um novo ciclo cujo objetivo será o de se tornar o “celeiro do mundo ".

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Minha tia Dudu

Hoje vou falar da minha tia “DUDU”. Ela era especialista em fabricar famosas receitas de doces, como Campista que era. Gabava-se constantemente das grandes compotas que preparava à base de goiaba, mamão verde, laranja da terra,além de deliciosos melados . Seu verdadeiro nome era Geraldina e por gratidão e admiração à minha mãe, de quem gostava muito, veio residir no Rio de Janeiro, em nossa casa. Na época em que conosco conviveu, transferiu para mim, todo o carinho que pudesse dedicar a nossa família, sendo categórica em declarar que veio para nossa casa para ajudar minha mãe, viúva que era, a me criar. Tomou para si todos os cuidados com a minha instrução e minha alimentação. Uma coisa muito importante, da qual nunca esqueci, era o grande cuidado que ela tinha comigo,quando preparava minhas refeições. Lembro-me sempre do tamanho dos pedaços de carne, preparados em bife, que ela com todo o carinho, partia em tamanhos diminutos, para que eu não engasgasse ao comer, pois, naquele tempo, eu sofria de uma forte amigdalite e por recomendação do Dr. Faria Lemos, meu médico, eu não deveria operar. Mas o fato curioso daquela nossa relação, tia/sobrinho, foi com respeito ao seu mal dormir. Ela dormia e de repente gritava muito, normalmente pedia socorro durante os seus pesadelos, e eu sempre acordava com seus gritos, tendo dificuldades de conciliar o sono novamente. Era comum eu perguntar a minha mãe, no dia seguinte, porque ela gritava tanto, ao que minha mãe respondia dizendo que era viúva de três maridos e que coincidentemente os três cometeram suicídio. Minha mãe atribuía os gritos a essas passagens pesarosas. Contava que o último deles, tocou fogo no seu próprio corpo. Com todos esses dramas, era justificado ter pesadelos. Essa minha tia Dudu também era pessoa extremamente cuidadosa com a saúde - não comia carne de porco, nem camarão. Era muito vaidosa e para estender roupas no varal, tinha o costume de subir num banco, para não elevar muito os braços e distender a musculatura. Usava cremes nas mãos e no rosto, andava muito bem vestida. Sempre que ia receber a pensão do falecido, que era militar, trajava-se muito bem e usava ainda, salto de sapato de sete e meio centímetros. Já adolescente, fiquei muito mais assustado, ao saber que ela mantinha um romance com um rapaz que não tinha nem trinta anos, mais novo uns cinqüenta anos do que ela. Sua verdadeira idade foi de fato descoberta no dia em que ela faleceu, quando tivemos que procurar os documentos para a certidão de óbito. Lembro-me que eu e minha mãe, nos olhamos e nos surpreendemos, verificando que aquela senhora, que não tinha nem rugas de expressão, já tinha completado os seus 83 anos de vida. Com essa tia sem laços de sangue, valeu a pena conviver, pelas delícias que preparava, pelo carinho que dedicava às pessoas e pela vitalidade e alegria que coroou parte da minha infância.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Uma Tribuna da nossa Imprensa !

Era um dia do mês de setembro de 1976 e eu desembarcava do metrô na estação Carioca, aqui no Rio de Janeiro e me dirigia ao trabalho. Trabalhava nessa época, no mais novo grupo cimenteiro da América Latina, que havia sido inaugurado em 24 de junho daquele mesmo ano.Era a mais moderna e produtiva fábrica de cimentos aqui instalada , que tinha feito a sua entrada no mercado para lutar e batalhar por uma fatia comercial na demanda brasileira de cimentos, brigando em prol de uma nova concorrência contra as antigas fábricas de um cartel de diferentes grupos produtoreshá muito tempo aqui já estabelecido.A fábrica tinha o objetivo de ensacar diariamente, seiscentas mil sacas de cimento portland da melhor qualidade em termos da atual produção brasileira.Aquele dia era um dia de brilho diferente para mim, como um executivo da área de Comércio Exterior, pois seria a primeira grande aquisição que eu faria no esquema de compras de equipamentos técnicos, para implemento da produtividade dessa nova fábrica, recentemente inaugurada.Aquela compra fazia parte de uma encomenda para o recebimento de um pedido de compra de dez caminhões de apanha de minérios, para operar fora de estradas, a um preço já acertado de cinco milhões de dólares cada um, totalizando assim uma compra de cinqüenta milhões de dólares.E eu, teria como compromisso, honrar a empresa fabricante de caminhões pesados fora de estrada,com a entrega de uma carta de fiança bancária, uma vez que iríamos financiar aqueles gigantes e raríssimos utilitários, que como já sabíamos, faziam os serviços de alta produtividade junto da nossa tão importante Vale do Rio doce, aqui no Brasil, no expressivo trabalho no transporte de minérios.E assim eu tinha programado junto com a gerência comercial da SOTREQ, um almoço entre eu e os funcionários daquela equipe de vendas da tão conhecida montadora de veículos pesados do mundo.A entrega da referida carta de fiança bancária, fornecida por um determinado banco comercial brasileiro, seria num almoço que teríamos na sede do nosso Jockey Club Brasileiro.Não posso deixar de dizer, que os caminhões já estavam no porto em ILLINOIS, sòmente aguardando a ordem de embarque.E no dia daquele acontecimento, eu caminhava indo para o trabalho pela rua São José, em direção a sede da empresa e eis que no caminho passo por uma banca de jornais, e vejo a manchete do jornal, A Tribuna da Imprensa, que citava em letras garrafais, e como sempre useira e vezeira de promover assuntos com alusão ao nome do meu digno patrão, um conhecido banqueiro e industrial europeu internacional, o chamando e classificando-o, como um rato de esquema mutinacional e que tentava pelos subterrâneos dos bancos brasileiros, derrubar o nosso sistema financeiro, com as suas tramóias. Nos meandros do artigo citava que o Brasil, estava por ele sendo roubado em negócios junto ao nosso BNDES -uma pura mentira e falsa hipocrisia da nossa imprensa brasileira, pois quem lia aquela manchete era eu, o seu Gerente de Tesouraria no Brasil,que por obrigação era sabedor da falsidade daquela publicação, e que já anteriormente, em publicações mais antigas já teria provocado em nossos escritórios, uma visita constante de procuradores integrantes do nosso Ministério Público.E pensando com os meus botões, eu caminhava aflito para o meu trabalho, e saberia que teria uma luta interna e externa muito grande e não conseguiria de jeito e maneira alguma derrotar a força daquela indesejável bomba jornalística, aquela maldita manchete.Eu só pensava na minha cara diante do staff comercial da SOTREQ, e pensava que vergonha seria para o Brasil.O que vai ser de mim na hora do almoço quando não tiver em mãos a carta de fiança bancaria para entregar?Mas mesmo assim, não esperei pela chegada do meu patrão, fui a luta, às nove da manhã para me encontrar com a diretoria do referido banco, e em lá chegando o superintendente regional estava cheio de dedos comigo, e me perguntou discretamente se eu tinha visto as manchetes dos jornais, ao que eu confirmei. Como eu já esperava, ele disse que teríamos problemas com a entrega da carta de fiança já prometida, pois a Diretoria do Banco,se recusa a entregá-la com aquela publicação contra nós.Então, cheio de firmeza, eu disse que queria que a Diretoria do banco, me dissesse aquilo cara a cara, para então eu dar a minha resposta, que eu não sabia se seria a mesma que seria dada pelo meu patrão.Adentramos a sala da Direção, e depois daquele papo tradicional, do pedido do café e da famosa água gelada e cristalina para todos, o Diretor soltou o verbo dizendo que teria que consultar a Matriz do Banco em São Paulo, e por conseguinte aquela noticia de jornal, ia nos fazer esperar até segunda feira próxima.De imediato eu disse, que achávamos que íamos encerrar as contas naquele Banco, pois tínhamos um movimento de mais de trezentos milhões de dólares com eles, e os caminhões vendidos já estavam no porto prontos para o embarque, dependendo apenas da carta de fiança e não ficaria nada bem, eu ir almoçar com a gerência comercial da SOTREQ, e não estar de posse da tão aguardada carta de aval do negócio já contratado.Afirmei que aquela era a minha posição, e não sabia qual seria a do meu patrão, pois ele não admitia qualquer desaforo financeiro que lhe fizessem. E assim pressionado regressei à empresa e fui direto para a sala da presidência.Quando o patrão me perguntou sobre a tal carta de fiança, eu disse que a noticia da Tribuna da Imprensa, havia nos atingido profundamente.E olhou sério para mim e disse, retrucando e chamando a todos os jornalistas de canalhas, quando me afirmou que eles recebiam dólares, do governo de outras nações da Europa, que o invejavam e o perseguiam, para publicarem noticias na imprensa marrom, aqui no BRASIL e no mundo inteiro, contra mim!E querendo ainda saber qual tinha sido minha resposta para a Diretoria do Banco, eu respondi de pronto, que eu íria imediatamente encerrar todas as contas do grupo de nossas doze empresas, naquele mesmo dia.E ele respondeu-me, que eu tinha feito muito bem, e completou dizendo para informar a empresa vendedora dos caminhões, que ele ia trazer o dinheiro de fora, e pagá-los à vista, ainda reforçando para que fizesse o pagamento do almoço deles. Garantiu-me que eles ficariam, assim muito felizes com a nossa nova decisão.E afirmou ainda, que compraria um jornal no Brasil, para fazer parte do grupo de empresas, e poder se defender daquela podridão da imprensa marrom aqui existente, que sempre o cercava e o perseguia e o chateava.E assim sendo, após decorridos seis meses, eu incluía no rol de nossos controles financeiros, um jornal.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Um "P" de provisória ou de permanente ?

Se vocês ainda não entenderam o meu tema, vou explicar. O “p” de provisória ou “p” de permanente apenas se refere a duas palavras que estão totalmente fora de uma contribuição financeira, que já tivemos, e da qual nos livramos em 2007.Resolvi voltar ao assunto porque agora, alguns dos nossos congressistas vão tentar ressuscitá-la, apesar da pressão dos meios de comunicação, especialmente da brilhante rádio CBN..Não é possível que tenhamos novamente que aceitar esse embuste em nossas despesas financeiras, e ainda mais sendo ela a única taxação , onde seu fundamento é diretamente de responsabilidade do nosso Governo Federal, uma vez que, o titulo desse tributo, como já é sabido, prende-se única e exclusivamente ao destino do custeio da nossa complicada área de saúde.E o nosso povo já está mais do que avisado e não desconhece que esse tipo de tributação já faz parte dos 27,5 % do nosso imposto do “Leão,” que a cada inicio de ano, por ocasião da declaração anual nos morde sem piedade parte da nossa renda. Fora qualquer outro argumento, não existe nenhuma nação no mundo democrático, que faça uma duplicação nos encargos de seu povo. O que necessitamos é de um gerenciamento com correção das despesas do nosso Governo, pois só assim teremos a certeza de que não seremos mais incluídos nos infortúnios dos impostos do lesa a Pátria! Basta de CPMF, que parece ser provisória e de repente, querem transformá-la em permanente!Mas eu quero aqui deixar uma idéia, para resolvermos logo o problema da saúde no nosso Brasil. Quando eu, dirigia uma industria química e farmacêutica, que produzia 228 tipos de produtos diferentes, eu era o chefe do departamento de planejamento e controle da produção e fabricávamos produtos nas linhas médicas e farmacêuticas e ainda na linha de produtos de higiene pessoal, como creme dental, talcos, sabonetes, cremes nutritivos, colírios, colônias, loções, tônicos, fortificantes, cremes de barbear, loções para após barba, etc...Naquela ocasião, eu chefiava os operários da linha de produção e ali existiam quase quinhentos funcionários, que prestavam diferentes serviços, em diversos departamentos como o de pesagens, fabricações, filtragens, maturações, lavagens, envasamento, embalagens, encaixotamento.Aquilo tudo me preocupava muito, por saber que ali existiam, tarefas e responsabilidades de valores bem diferentes. E que por certo, tínhamos que orientar aquelas pessoas de maneira que sentissem que trabalhavam numa linha de produção onde a falha humana não poderia passar por perto, pois eram áreas de remédios, que exigem grande responsabilidade e cuidados.Naquela época os serviços de fiscalização de medicina, não deixavam por menos e o normal era recebermos sua visita de dois em dois meses.Com o intuito apenas de valorizar os trabalhos da equipe, eu cai na asneira, de tentar melhorar os salários, trazendo mais motivação ao quadro de operários que ali trabalhavam comigo.Já havia feito um levantamento na área recursos humanos e tinha descoberto uma injustiça muito grande em relação aos ganhos individuais de cada um deles. Sendo assim, criei índices para reajustes salariais que atingiriam a todos indefinidamente.O critério de que me utilizei para chegar aos índices, foi a análise dos preços unitários de venda de cada produto, e em contrapartida, os valores que apurei de custo unitário de produção.E até hoje tenho o relatório em que me apoiei para presentear ao grupo de trabalho, com a palavra justiça!E preparei este relatório fazendo menção de função por função , criei uma tabela de pontos para cada departamento e operação e cheguei a conclusão de que ali existiam funcionários que já trabalhavam há mais de vinte anos e que recebiam o mesmo salário mínimo como se tivessem entrado na empresa naquele ano.E naquela pontuação analítica, eu fui sempre muito sincero a toda prova, e para função de mais responsabilidade, a valorização, teria um fundamento correto em posições de chefias.Digo aqui e repito, fui muito responsável, com todo o grupo de trabalho que representavam quase quinhentas famílias.Ainda fui honesto com eles, avisando do que eu preparava, e afirmando que se a Diretoria não me respondesse afirmativamente, eu deixaria a Empresa para a qual já trabalhava há quatorze anos, numa época em que ainda não existia o FGTS, que só viria a ser implantado no ano seguinte ao que estávamos, pois era o ano de 1966!Existiam operários que me olhavam com um sorriso de orelha a orelha e me perguntavam se eu já tinha tido notícias da proposta de aumento salarial, ao que eu, com tristeza respondia que não.E eu achava que estava demorando muito a obter a resposta do meu Diretor Industrial, embora estivesse sempre cobrando uma solução.Um dia, seis meses depois, pressionei a Diretoria e fui então informado que eles iam dar os aumentos de salários de acordo com os meus cálculos, pois no meu relatório eu afirmava, que se eles deixassem de ganhar um centavo em cada unidade vendida no Brasil, sem falar no Exterior, eles teriam aquela condição de corrigir os salários sem problemas financeiros, como provava o meu relatório.Eles deram o aumento, mas eu, perdi um emprego e uma indenização de vinte e oito anos de anos de serviço, pois naqueles tempos quando se atingia mais de dez anos de serviço, a indenização era paga em dobro. E perdi tudo, porque pedi as contas, devido a grande pressão que comecei a sofrer por parte da Diretoria que temia novas idéias daquela ordem, de minha parte. Recebi somente os dias trabalhados naquele mês tão lembrado de novembro de 1966.E é por ainda hoje fazer fé naquele meu relatório que modificou a vida de quase quinhentos brasileiros é que eu afirmo, que ele serve para acalmar a sede da tributação do CPMF que, se dirigida a quem de direito, ajudará com certeza a salvar a saúde de quase duzentos milhões de brasileiros.Basta direcioná-la aos planos de saúde e a todas as farmácias do nosso imenso Brasil.Falo nos planos de saúde, porque eles recebem e nem sempre usam o dinheiro, pois depois de aposentado e pagando há mais de dez anos um dos melhores planos de saúde, tive o desprazer de necessitar de uma operação que não podia pagar, e ouvir da Seguradora QUE A MINHA DOENÇA ERA PRÉ-EXISTENTE.Como se pré- existência, pode se dizer de quem paga um contrato há mais de dez anos.Por isso acredito que devamos incluí-los nesse esquema.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Um mau começo

Que lindo o nosso Brasil! ... Quanta terra, quantos rios, quantas matas, quanto minério, quanta fauna, quanta flora... Esse nosso país é um Eldorado de um planeta jovem. Foi descoberto casualmente. Acho eu, que Cabral , fazia exatamente uma viagem de turismo até as Índias, e, para livrar o seu berço natal do chamado lixo humano, levava consigo, diversos indivíduos condenados pela justiça portuguesa, para o exílio em terras descobertas e não habitadas. Uma forma usual e política do reinado português. E neste caminho,implantaram-se todas as linhas de crescimento do nosso grande Brasil ! A força de braço veio da África... A força técnica da Inglaterra e da Alemanha... Da França, veio o intelecto, a moda e a leitura. Assim , ficamos dependentes de acordos comerciais e industriais, que nos dominaram até há bem pouco tempo. Faço um apelo ao nosso mundo político de hoje: -não esqueçam, por favor, que nós brasileiros, não somos mais aquele lixo humano que veio esquecido nos porões dos navios. Que nós não somos só braços, somos cabeças também, e que já temos noção exata do nosso tamanho e da nossa força e riqueza. Assistimos à colonização, ao império, à República, à ditadura de Vargas, à falsa democracia, à ditadura militar, e atualmente assistimos a ”baguncracia”. Só temos lamentos... Estamos querendo ser de primeiro mundo e esquecemos que nós somos de um mundo especial, onde temos um pouco de cada raça, um pouco de cada língua e vivemos num clima especial para vida e cultivo. Já tivemos todos os exemplos para implantarmos o novo caminho: Conhecemos 30 anos de Vargas, 5 anos de Dutra, 5 anos de Juscelino, 9 meses de Jânio, 24 anos de ditadura militar, 4 anos de Sarney, 2 anos de Collor, 3 anos de Itamar, 8 anos de Fernando Henrique e tantos mais de Lula.Somando todos esses anos, concluímos que nada mudou até agora... As afirmações continuam sendo as mesmas, a nossa moeda é fraca, a nossa produtividade é baixa, a corrupção é ativa, as nossas dívidas interna e externa são altas, o desemprego é constante, a nossa Amazônia é desprotegida, a segurança não existe, a educação e a saúde são fracas, o crime se estabelece em crescimento, a moradia é carente, a poluição aumenta, o desmatamento é criminoso, a justiça é lenta, o saneamento é falho, as medidas provisórias se firmam e se tornam definitivas...Afinal, Brasil ! Vamos ou não vamos, chegar lá? Não precisamos copiar o modelo chinês, pois não iremos construir uma muralha de pedras, mas vamos definitivamente construir uma muralha de inteligência, fazer uma divisão racional das tarefas, quem sabe retrocedermos até os tempos da colonização e iniciarmos agora, um novo ciclo cujo objetivo será o de se tornar o “celeiro do mundo ".