Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

terça-feira, 30 de março de 2010

Uma grande emoção como brasileiro!

Estava vivendo a minha idade de jovem feliz, em buscas de um caminho que me desse uma realização de vida, pois era eu um Aspirante a Oficial da Reserva do Exército, convocado temporariamente para prestar um serviço militar a nível de estágio, que seria uma instrução inicialmente de seis meses, para promoção ao posto de Segundo Tenente.E nós, os convocados, fazíamos parte do maior regimento da América Latina da Vila Militar aqui no Rio de Janeiro e cada um de nós que éramos num total de 40 e que estávamos radicados e distribuídos nas companhias de serviços de todos os batalhões do REI ( Regimento Escola de Infantaria) que eram num total de quatro por companhia de serviços, sendo vinte por batalhão de comando, e finalmente oitenta homens ao todo e que faziam parte do primeiro grupamento tático da ONU, em caso de guerra mundial.E durante este estágio, nos éramos uma força auxiliar ao quadro de oficiais oriundos da AMAM (Academia militar das agulhas Negras), e teríamos para não envergonhar a nossa origem, o CPOR /RJ, nos empenhar para prestar um serviço que indicasse o nosso melhor nível, dentre todos os outros oficiais de carreira, que ali serviam e a quem seriamos uma dedicada força auxiliar.E cada um de nos éramos classificados e julgados pelo nosso Capitão comandante, e anexados a um plano de ensinamentos, e eu então, passei a ser o instrutor de Moral e Cívica, como ainda também, o Oficial responsável, pelo treinamento de armamento e tiro da companhia que fazia parte, como no correr do estágio fui também treinador de futebol e acabei apitando a partida final do jogo de futebol que fechava o campeonato regional no regimento. Vejam então a minha maior admiração como instrutor, fiquei emocionado e perplexo, quando fui dar a primeira aula de moral e cívica, e escolhi como sendo a minha instrução de apresentação, a Bandeira Nacional Brasileira, e foi aí a minha grande surpresa.Eram cento e setenta e cinco soldados, a quem me apresentei como instrutor da matéria e estava curioso diante de um grupo que eu sabia a origem daquela maioria, que na verdade eram homens que eram pegos pelo interior do país, para prestarem o seu serviço militar.Então para que eu testasse o nível de conhecimento desse grupo, uma vez que eu sabia que a grande maioria vinha de regiões de lavoura e serrarias, quis fazer uma pergunta, que me orientaria de que forma eu abordaria o meu caminho de instrução.Foi então que eu tive a maior surpresa , quando pedi a toda a turma de soldados, que levantasse o braço quando eu fizesse a pergunta, quando a resposta fosse uma afirmativa,E ai então fiz a primeira pergunta,,,, quem conhece o PELÉ ? Todos levantaram o braço conforme eu havia pedido, confirmando a minha pergunta.Vem então agora a segunda pergunta que elucidava para mim o nível do nosso grupo de soldados daquela época. Eu então perguntei quem nunca viu a Bandeira Nacional do nosso país levante o braço.Confesso que fiquei assustado, pois dos cento e setenta e cinco homens presentes, quarenta e três deles levantaram o braço confirmando a minha pergunta, de que nunca tinham visto o nosso manto sagrado..Vejam vocês como essa nação é de uma grandeza sem tamanho, quantos brasileiros a quem tive, muito emocionado, o prazer de apresentar a Bandeira do nosso grandioso Pais.Nesse dia após o meu trabalho de instrutor, fui para casa profundamente feliz e narrei o fato para minha patriótica mãe!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Falando com meu pai

Meu pai, já fazem mais de 53 anos e ainda te sinto vivo.
Confesso que nos separamos há mais de meio século.
Sei que você não morreu e está bem vivo dentro de mim.
Hoje brilham em minha cabeça as luzes de uma grande soma de esperanças.
Escrevo hoje, o que já deveria ter feito há muitos anos. Tento colocar a minha emoção e buscar nos poucos anos que tivemos juntos aqui na Terra, todos os exemplos de vida que você me passou.Lembra, meu pai, quando me contou os principais motivos que o fizeram deixar a sua Olinda querida, no bairro de “Casa Amarela” em Recife, com apenas quatorze anos de idade? Que força de vontade trazia aquele menino para enfrentar a vida numa Cidade grande e politicamente vigiada por ser a Capital da República do Brasil! Aquela história de que a sua família era densa eu comprovei pelo retrato de casamento da sua irmã mais velha. Ali estavam reunidos meus avós que não pude conhecer, meus tios e tias, ao todo uns quinze componentes. E você deve estar lembrado, que me contou, que o meu avô era um homem de uma estatura impressionante, para o brasileiro daquela época, pois ele atingia 2,15 metros.E ainda por cima, me disse que ele dava espetáculos em praça pública, deitando-se no chão e cobrindo-se de pranchas de madeira. Sua exibição consistia em que os carros da época passassem sobre o seu corpo demonstrando uma força de um “Hércules”. E ainda acrescentou que ele foi assassinado por um dos invejosos daquela Cidade, porque em razão do sucesso, ele era desejado por quase toda a maioria das mulheres.Isto provocava um grande ciúme nos maridos que se achavam preteridos. Algum deles, mais enciumado acabou por matá-lo a tiros, em plena praça pública.Foi aí então, que se iniciou a sua via crucis, pai. Você foi obrigado a morar com o seu irmão mais velho já casado e a sua vida não teve mais sossego, pois apanhava muito desse irmão. Você foi obrigado a deixar a cidade sozinho, para se ver livre dos maus tratos. Aqui chegou ainda menino, se empregando em uma padaria no bairro do Rocha aqui no Rio de Janeiro.Ali mesmo, com o consentimento do seu primeiro patrão, fez dos sacos de farinha a sua cama e casa, e ali trabalhava entregando pão, pela madrugada afora.Essa foi sua dedicação para a vida, que enfrentou sem medo, até os dezoito anos.Teve outra oportunidade de trabalho, quando foi convidado pelo dono de uma garagem vizinha, a ser seu novo empregado, e a partir dos seus vinte anos de idade, recebeu o apelido de “Paulista”, apesar de ser pernambucano, mas oriundo do Município, que tinha o mesmo nome.Ali você cresceu profissionalmente, tendo sido o homem de confiança, controlando todos os estoques de combustíveis durante a Segunda Guerra Mundial e sempre com muita honestidade, não se deixou levar, pelo câmbio negro da gasolina, que se implantava naquela época dos carros a gasôgenio, nunca tendo se favorecido da sua posição, pois a lei determinava, que a venda e o fornecimento de gasolina, só poderiam ser feitos às autoridades públicas e às áreas de saúde. Sua grande honestidade e lisura não o fez ficar rico ilicitamente, apenas ficou amigo de brasileiros ilustres. E como prêmio, por essa honestidade no seu trabalho, ganhou do seu patrão o título de sócio-gerente, que nem chegou a exercer, pois foi da vida afastado, provisoriamente pelo nosso bondoso “Deus”.Talvez quem sabe, para uma missão muito especial, que ainda vou com certeza saber o motivo futuramente, depois de lhe dar um longo abraço fraterno.Devo acrescentar, que nesse caminho de 23 anos aqui no Rio, você incluiu em sua vida uma fluminense nascida em Niterói, que por força do destino, também era órfã de mãe e que tinha por necessidade residido na casa da sua cunhada com o seu irmão mais velho e que por coincidência, também sofria maus tratos, após o seu pai ter sido afastado, por motivos políticos, do cargo de Diretor-Tesoureiro Geral dos Correios, que ocupava na então Capital Federal pela convocação feita, pelo Dr. Washington Luiz, o então presidente da República.Ela, minha mãe, sofreu também iguais dificuldades de vida, quase que as mesmas coisas que você.Você sabe bem dessa história, meu pai. Ela me contou que a necessidade em casa era tanta, que ela começou o namoro contigo e que você a conquistou, quando lhe deu um pacote de manteiga, que ela já não comia há muitos anos, pois quando o pai dela, o meu avô, foi afastado do cargo que ocupava, ela perdeu uma boa casa, instrução, o estudo de piano, suas roupas, suas bonecas, e sua formatura de professora, que só faltava um ano para completar.Mas o exemplo de vida a dois, ficou estampado nessa união e hoje me sinto feliz, muito feliz, em ter sido filho único de uma tão completa união a dois, que hoje tento reproduzir com a minha cara-metade, que representa grande incentivo de novas descobertas porque a manutenção de vida é um ato contínuo e sem desprendimentos.Minha grande intenção para o fim da minha vida, quando ela chegar, meu Pai, é te encontrar e sei que estará junto à minha mãe, que já se acha ao seu lado há algum tempo.
Espere por mim, meu pai !

sexta-feira, 12 de março de 2010

O mundo vai virar

Eu sempre pensei que um dia, o mundo ia virar, mas como isso poderia acontecer? A semente da humanidade foi plantada no Oriente, as maiores e mais antigas civilizações estavam alí fixadas, e por alí aconteceram as grandes descobertas. No entanto, o espírito aventureiro do homem, a força da sua ambição em obter além do que possuía, fêz este mesmo homem sair em busca de novos horizontes e novas conquistas. Hoje,decorrente dessa força, acontecem as coisas no Oriente e o restante do mundo se apavora. A Russia, a China e o Japão jogam o desespero nas bolsas internacionais, e nós, pobres cristãos, ficamos sem saber o que poderá ocorrer com o resto do mundo, onde estamos incluidos. Que fantástico o nosso caminho da globalização: ter ciência dos rombos financeiros do mercado mundial via Internet, sentir no rosto de cada operador da Bolsa, o desconforto da perda, sentir o desespero dos financistas e empresários e vê-los com aquele olhar tenso, aquela esperança de uma reviravolta, sem dúvida, é inacreditável... E como devem estar as UTI’S dos principais hospitais que cuidam da saúde desses profissionais, pelo mundo afora ? Trabalhar com dinheiro é terrível! Controlar dívidas caseiras já é um transtorno, muito pior, fazer lances da expressão real da dívida externa de um país, que até poderá atingir uma moratória. A minha experiência na área financeira é exatamente contrária a fase que o brasileiro atravessa hoje. Participei desse mercado, nas décadas de 70 e 80, quando o espírito dos nossos dirigentes era mais otimista. Otimismo talvez gerado pela forma como a política econômica encaminhava as coisas,ou seja, “com a barriga”. Sempre se resolviam dívidas com novas dívidas. Aprendi que o dinheiro tinha um preço a cada dia da semana. Na 2ª feira valia menos, na 3ª feira um pouco mais, na 4ª feira começava a aumentar um pouco mais e na 5ª feira tinha o seu mais alto preço, porque todas as operações financeiras deveriam estar concluídas até 6ª feira. Nesse ponto , o dinheiro barateava, porque iria “dormir” na conta bancária no final da semana. Hoje, fico louco, nosso dinheiro tem sempre o mesmo valor e as coisas não param de subir. De que adianta a moeda ser forte se ela vive trancada nos cofres dos bancos internacionais? Atualmente somos de primeiro mundo em valor de moeda, mas em compensação, somos os últimos do mundo em balança comercial. Nada produzimos e ficamos na expectativa de rever o básico da economia brasileira deslanchar, confirmando que o seu princípio mecânico tem que ser de “capital e trabalho”, e não de “trabalho do capital”. Vamos clamar aos nossos dirigentes que criem trabalho, que ganhem os mercados de exportação, que equilibrem a nossa balança comercial. Temos, necessariamente que ser um país ativo e não um “país passivo”, anterior à era da informática. Naquele tempo, os nossos contabilistas possuiam menos recursos para identificar a futura falência de um negócio. Normalmente êles chegavam até o proprietário e sócio e com um livro de 500 folhas na mão entre débitos e créditos, falavam entre os dentes, quase sussurando que a Empresa tinha falido, o que na maioria das vezes era confirmado pelo empresário. Nos tempos atuais as condições são totalmente diversas, temos como planejar, trabalhar, revisar e poupar. Não podemos esquecer,que o Dr. Enéas podia parecer um louco quando dizia que as nossas reservas eram infinitas,mas nessa hora o nosso presidente deveria fazer das palavras do Dr. Enéas as suas. Sem dúvida, estaria fortalecendo um novo refrão, em substituição aquele já consagrado bordão do nosso povo : -“ Eu tô maluco, ah! Eu tô maluco”, que o brasileiro grita quase diariamente, em busca da solução dos problemas de vida no nosso grande e glorioso país.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Uma barbearia, uma notícia, um comentário e um silêncio total !

Era dia daquela faxina geral na aparência - barba, cabelo e bigode - e eu chegava à minha barbearia de sempre, a procura do meu pelador preferido.Lá estava ele, como sempre bem ocupado e foi logo me dizendo pra’ sentar e aguardar, pois tinha três clientes na minha frente.Pediu que eu tivesse paciência porque escolhia sempre o final de semana, quando ele estava com mais clientes.Sentei-me na única cadeira vazia e peguei um dos jornais que ali estavam para ler.Naquele mesmo momento, o rádio ligado anunciava a fuga do bandido ELIAS MALUCO em Niterói. A notícia era complementada com o fato de que ele havia pago aos seguranças do xadrez, a propina de seiscentos mil reais, gerando um inquérito policial militar. Prosseguindo sobre a notícia diziam que o bandido era o mesmo que havia executado o jornalista TIM LOPES, reduzindo-o a cinzas no tal forno micro ondas, lá na pedreira do COMPLEXO no morro do ALEMÃO.A indignação tomou conta da minha cabeça fazendo com que eu dissesse em voz alta - ESTE PAIS NÃO PODE TER JEITO - Mais indignado eu fiquei, vendo que nenhuma das pessoas, ali presentes, disseram nenhuma palavra.Até mesmo o meu barbeiro preferido que é uma pessoa muito falante, nada falou sobre o assunto, ele, que nunca me deixou sem resposta, não me dirigiu nenhuma palavra. Estranhei o comportamento de todos, ali presentes, mas como eu ali chegava naquela hora, poderia ser uma noticia repetida, e assim permaneci calado, mas notei o meu barbeiro, com os olhos arregalados me olhando, como se quisesse me dizer alguma outra coisa. Aí então , o tal freguês que estava na cadeira do Joilson se levanta, e vem logo sentar-se ao meu lado.E eu ali na espera da minha vez, continuava a ler o jornal do dia, calado. O tal elemento, então, sacou o seu telefone celular, e começou a falar em voz alta, para quem quisesse ouvir. Como o salão estava cheio, a platéia era grande.Falava ele: - fulano, eu estou aqui com os meus amigos barbeiros, e tem dois deles que estão precisando tirar uma carteira de identidade com urgência urgentíssima, o que tu me diz a respeito disso? Sim, era exatamente, o que eu queria ouvir, ficam prontas em dois dias, e eu pego contigo, está bem assim? –Olhando para os barbeiros, que encomendavam a tal carteira, completou: - QUEM PODE, PODE!Eu lendo o jornal estava, e lendo o jornal fiquei. O tal sujeito ficou por ali rondando, todas as cadeiras da barbearia, e finalmente resolveu ir embora, despedindo-se do meu barbeiro.Nessa altura, o Joilson, aguardou o tempo passar um pouquinho e olhando para mim disse: - o cara, ficou nervoso com o que tu disseste, e eu já estava nervoso também-Então perguntei o porque e ele foi taxativo, esclarecendo que aquele cara era um policial civil e antes de eu comentar a notícia, ele havia falado para todos, como se tivesse se gabando, que dias atrás ele havia soltado um traficante e a grana tinha sido dividida, entre ele e o delegado, chefe dele, cabendo oitenta mil pra cada um !O barbeiro ainda nervoso, falou de sua preocupação comigo quando comentei a notícia sob a forma de protesto e do seu medo quando ele saiu da cadeira, e em vez de ir embora, resolveu sentar-se ao meu lado. Respondi ao Joilson que apenas havia falado uma verdade, lamentando que ficassem assustados, mas que a partir de então eu teria cuidado, com o que falasse em lugares públicos, pois as coisas estão cada vez mais doidas neste pais.Confesso que tive um certo temor quando sai de lá e com muito cuidado fui para minha casa!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Minha era Brasil, na construção civil (II)

Vou aqui fazer referência única a um dos empresários que conheci, mais precisamente nas décadas de final de 60 e início dos anos 70.
O Dr. Roberto Jorge Oakim, sócio-proprietário majoritário da Construtora R.J. Oakim Engenharia era um homem dinâmico e de raciocínio rápido, voltado inteiramente para a construção civil. Não fosse ele um homem liberto de algumas convenções, teria ficado marcado nesse mercado, como o gênio da nova dimensão do mercado imobiliário. Como administrador de empresa não era dos mais detalhistas, pois se fazia presente em sua mesa de trabalho somente após às dezoito horas e normalmente acompanhado de uma equipe que mantinha o seu equilíbrio emocional: uma manicura permanente, um cabeleireiro, um amigo e empresário, Dr. Mário de Oliveira e a sua companheira, que não saía do seu pé.
A parte da noite era eternamente o horário preferido daquele profissional.
Normalmente, atendia aos seus diretores após uma sessão de massagem, corte e pintura de unhas de mãos e pés e de uma descoloração nos cabelos para manter a sua lourice.
Gostava de saber das coisas da empresa, falando ao telefone, recebendo massagem nos cabelos e com os pés encima da sua manicura. Habitualmente me pedia auxílio para ajudá-lo nas suas contas de projeção de negócios. Era um tipo raro, não temia resolver coisas de cabeça. Se por acaso, algum projeto na área de construção fosse colocado em suas mãos, rapidamente respondia: - aqui nesta planta podemos projetar dois edifícios de apartamentos de um, dois ou três quartos, com uma área útil de tantos metros quadrados.
Mas no entanto, para fazer contas de dois mais um, sempre me chamava para ajudá-lo e para se desculpar me dizia que já estava muito além daquelas somas, pois não sabia mais fazê-las.
Não será necessário dizer que a empresa passou a ser concordatária e logo após, teve a sua falência decretada.
Foi uma pena, porque uma construtora que tinha todas as bases técnicas para se fixar no mercado imobiliário, não poderia ter sido levada a uma situação de falência.

segunda-feira, 1 de março de 2010

O jogo pai e a madrasta sorte

Quem realmente acredita no jogo pela sorte?O brasileiro, com certeza, acredita que num determinado dia, ao fazer aquela “fezinha”, num dos jogos da loteria da Caixa, vai faturar aquele prêmio que vai endireitar sua vida para sempre. Confesso que sou um otimista, criado de forma a pensar, que no dia seguinte, a sorte virá bater à minha porta.Quando menino, eu observava o meu pai. Um trabalhador humilde, que tinha como hábito, sempre utilizar os recursos da gorjeta que obtinha com seu trabalho, para fazer o seu jogo no “bicho”. Ele jogava com muita esperança e com muita precisão, um sistema que sempre lhe dava alguma segurança de retorno. Normalmente ele ganhava. Era difícil ver meu pai ficar triste, porque havia perdido. O jogo do bicho era de toda a confiança, e servia de distração e esperança para o trabalhador, que tinha, naquela época, poucas opções de lazer. Eu sempre assistia meu pai jogar, de uma forma, que o conduzia ao sucesso. Deitado na cama com o rádio ao lado e repetindo: - entrou uma, entrou outra,etc... Assim, vinha o ganho no jogo do bicho, e com ele, conseguiu trocar toda a mobília e utensílios da nossa casa e, às vezes, ainda pagava as despesas do meu colégio. Aquela forma de otimismo tomou conta de toda a família e fez com que diversos parentes e vizinhos, utilizando o mesmo processo de jogar do meu pai, arriscassem nos ganhos, que se tornaram quase diários, naquela Comunidade. O precioso processo de jogar do papai, contagiou minha mãe, e fez com que ela sempre, acompanhasse as extrações diárias do Jogo do Bicho, e assim também faturasse alguns trocados, sem nunca perder a esperança, de num dia poder ganhar “aquela” bolada.Vivenciei também, um lance muito curioso, de um sapateiro, que era vizinho de nossa residência, e que diariamente jogava, e já contagiado, pelo sucesso da vizinhança, ainda arriscava comprar bilhetes da loteria. No entanto, não era muito otimista, e sempre que comprava um bilhete, colava atrás da porta da sapataria, dizendo que já sabia que não ia ser sorteado. Comprava tantos bilhetes que a porta da sapataria virou um verdadeiro painel, com bilhetes colados lado a lado, uns por cima dos outros. Num determinado dia, para o cúmulo da sorte, saiu o primeiro prêmio da loteria para o sapateiro. Ficou tão apavorado por ter colado o bilhete atrás da porta e saber que as regras para o recebimento do dinheiro, tinham como principal fator, o fato do bilhete não conter nenhum rasgo ou rasura, que admitiu que não devia brincar com a sorte. Para a solução daquele problema, teve uma idéia brilhante. Pegou a chave de parafusos, arrancou a porta, e nervoso e muito cansado, foi à pé, até à agência da Caixa, com a porta nas costas, para receber o primeiro prêmio da loteria federal daquela quarta-feira. Com a constatação de tantos bilhetes ali colados, teve a credibilidade necessária para o recebimento do prêmio.Antigamente as pessoas eram quase todas humildes. A distração eram as lojas de jogo de bicho, onde a polícia fazia vista grossa e, como sempre ,recebia dos banqueiros as propinas, para a manutenção das lojas abertas. Quando prendiam o bicheiro, era para mostrar a chefia da Secretaria de Segurança, que estavam agindo contra a contravenção. Pura mentira!Sempre torcia pela minha mãe, para que ganhasse um prêmio expressivo, pois ela era uma fiel jogadora, e até o dia em que papai faleceu, era uma associada aos seus palpites. Felizmente , este prêmio veio surgir na época em que eu, que não era um jogador habitual, estava muito necessitado dele. Eu tinha sido avalista de uma operação de empréstimo bancário para que um colega de confiança, pudesse regularizar a escritura de um imóvel, que dizia a mim ter comprado. Descobri mais tarde, que havia ganho o imóvel, numa mesa de jogo. Esse meu colega, tinha o hábito de frequentar, todo final de semana, com parceiros, que eram grandes comerciantes e jogadores, casas de jogos de poquer. Após continuar jogando, pensando em ganhar mais e mais, acabou por perder o tal imóvel, e simplesmente desapareceu, deixando-me com a divida bancária, que como avalista, teria que honrar, apesar de toda a dificuldade.No dia em que minha mãe ganhou no bicho, eu já não tinha mais como renovar a tal nota promissória.E aí, vem a história da madrasta sorte. A minha mãe que deu aquela tacada e acertou na cabeça, um milhar, ficou sem o dinheiro, pois teve que cedê-lo a mim para a solução do grave problema que me afligia a cada mês, quando tinha que renovar a dívida. Apesar de tudo, ficou a mostra de que a fé e o otimismo, daquela mulher, minha mãe, teve o seu dia de consagração. Por isso afirmo que a sorte é madrasta, e necessita de muita insistência, para trazer a verdadeira sorte para junto de nós.