Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Minha tia Alcina

Vou falar agora da minha tia Alcina. Ela era casada com o meu tio e padrinho de sangue, o tio Carreiro. Esse meu tio jogava no “Fluminense” e na época que eu relato aqui, era um dos melhores jogadores, apelidado de “Rui Barbosa do futebol” . Seu nome verdadeiro era João Batista de Siqueira Lima, irmão de minha mãe que chamava-o de Joãozinho. O nome “Carreiro”, foi-lhe dado pelo grupo, visto que quando se apresentou para treinar no seu primeiro clube, o São Cristóvão, durante uma concentração para jogar, havia dormido na cama do antigo dono do nome. Por ser um jogador muito famoso, muito farrista e beberrão, essa minha tia não saia lá da casa de minha mãe, porque era lá, que contava seus problemas e desafogava suas mágoas. Minha mãe era a única mulher no meio de todos os seus cunhados, e eu sempre a ouvia falar em “dívidas”. Lembro-me bem, que quando minha mãe me ensinou a rezar o “Pai nosso” , quando chegava naquele momento do célebre - perdoai as nossas dívidas - eu dizia para minha mãe - perdoai também as dívidas da titia Alcina, não é verdade mamãe ? – Minha mãe se comovia e sorria , dizendo-me que eu era muito bonzinho. Minha tia Alcina era aquela mulher do futuro e mostrava isso na antiga década de 40. Era uma dançarina, famosa nos dancings da iluminada Avenida Rio Branco. Era lá nessa iluminada avenida, que toda a classe de artistas, como cantores de rádio e atores de teatro e jogadores de futebol famosos se reuniam para se divertirem. Ela, como ela era do meio artístico, se juntou a ele. Tiveram uma única filha, a minha prima, Wilma. Em razão de proteger a própria filha, minha tia Alcina buscava sempre uma aproximação com minha mãe, pois sentia que ela seria uma defesa e uma garantia da sua posição de esposa. Sabia que meu tio ouvia muito a irmã, minha mãe. Mas na realidade nada disto adiantou manter a união dos dois, mesmo com essa ajuda diária que a minha mãe sempre prestou e a separação veio a acontecer num determinado dia. Em conseqüência disso, eu perdi o contato com a minha tia Alcina, primeira artista e dançarina que conheci, de quem ainda guardo na lembrança as maravilhosas histórias que me contava.

(Jorge Queiroz da Silva - fevereiro/2009)

Fonte da imagem:agarotaaluada.blogger....

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