Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um nome extenso, uma sorte na vida e um grande enigma!


Hoje, falo aqui de mais um lusitano que conheci no meu extenso caminho profissional, uma figura das histórias que eu ouvia na minha infância.
Ele desembarcou no Brasil em 1976, vindo de Moçambique onde ocupava a posição de Administrador Geral dos negócios de um empresário que investia em vários ramos de atividades comerciais e industriais. Era considerado no Grupo dessa empresa portuguesa, como um dos homens mais importantes, ou seja, o braço direito do seu importante patrão. Seu nome era de impressionar a qualquer brasileiro.
Chamava-se José Luís Bobella Torres de Nogueira de Sampaio Fevereiro.
O meu primeiro encontro com esse famoso mito, foi exatamente no corredor central da administração geral das empresas do grupo.
Já tinha sido avisado da sua presença no Brasil, e de antemão, eu já sabia que viria para ocupar um cargo de destaque na Empresa,uma vez que ele tinha abandonado Moçambique, pois os revolucionários o estavam perseguindo e o ameaçavam de morte.
Fiquei, confesso, impressionadíssimo.
Ele trajava uma calça cinza, uma jaqueta também cinza, uma camisa branca, um jaquetão preto, usava um ”pince-nez” com corrente dourada e na mão direita, portava uma bengala também preta, com cabo de prata , que conforme diziam outros funcionários, era própria para bater nos maus empregados daquela nação africana.
Mas na verdade, era um enigma, teríamos que conhecê-lo aos poucos.
No dia que me fizeram a sua apresentação, êle foi taxativo: -quero ser chamado ”fevereiro” e não ”de fevereiro”,pois nasci em julho!
Pela sua idoneidade pessoal perante ao Grupo, foi nomeado Gerente Administrativo com autorização para assinar pelas Empresas com todas as características de representá-la nas Instituições Públicas e Privadas, inclusive nas Empresas de Crédito, Bancos privados e oficiais. Veio então daí, a minha primeira grande dúvida,pois como a minha função era de gerenciar todas as Tesourarias do Grupo, fui até seu gabinete e solicitei cópia do instrumento de procuração que o autorizava a assinar cheques, borderaux, requisições, autorizações etc...
Com surpresa, ouvi dele o seguinte: - oh! Sr. Queiroz! Não posso dar cópias da minha procuração. Ela é para uso exclusivo meu. Não vou entregá-la na mão de qualquer um. Lá em Portugal, todo documento fica em nosso bolso. É um documento de confiança do nosso grande Chefe.
Então eu alertei: - Sr. Fevereiro, aqui no Brasil, se não deixarmos uma cópia dessa documentação, todos os negócios financeiros ficarão paralisados. Mas como ele tinha sido muito avisado para tomar cuidado com os brasileiros, teria daí para frente a necessidade de sempre ficar com um pé atrás. E eu ainda nem tinha terminado, a conversa com ele, quando sua sala foi invadida pelo seu filho mais jovem, um menino corado de mais ou menos uns quatorze anos.Imediatamente o ouvi dizer: - até que enfim chegastes! Onde te meteste oh! Gajo?
-oh! Pai! Tu não me mandaste ao dentista? Fui lá na tal Praça Mauá.
-E porque demoraste tanto e estás tão vermelho?
-Ora pai, tu não sabes o que aconteceu? Eu ia a ”andare” pela tal praça, quando dois gajos meteram-se à minha frente com uma faca em minha barriga e tomando-me tudo e ainda por cima me deram umas tapas.
-Ora seu bobo, eu não lhe disse que tomasse cuidado,pois nessa terra, só tem gatunos e vagabundos?
E após proferir esta expressão, lembrou-se de que eu era da terra e estava presente na sala, ouvindo a conversa dele com o filho.
Aí então, foi levantando a cabeça lentamente na minha direção e fitando-me nos olhos, balbuciou entre os dentes: -Desculpe-me Sr. Queiroz, desculpe-me...
(Jorge Queiroz - julho/2010)
Fonte da imagem:lamodedemode.blogspot.com

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