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Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A demonstração de uma réplica da bomba atômica

Decorria o ano de 1955 e comemorava-se os dez anos de término da Segunda Grande Guerra Mundial, nos campos de batalha da Cidade de Montese, no tão falado Monte Castelo na Itália.
Eu, era um jovem sonhador que necessitava entender o nosso Brasil da época e só sabia da bomba atômica pelo que havia lido nos jornais aos meus onze anos de idade.
Naquela época, eu tinha concluído o meu curso de Oficial R\2 no Exército Brasileiro, no CPOR/RJ e recebia um comunicado para estagiar como aspirante a oficial, no Regimento Escola de Infantaria, na Vila Militar do Rio de Janeiro.
Junto com a convocação para estágio, me era enviado um convite do 1º Exercito, que fazia menção ao comparecimento, num determinado dia do mês de março do ano de 1956, numa reunião militar, na Escola de Instrução Especializada , no bairro de Magalhães Bastos, para assistir no campo de provas, a demonstração da explosão da réplica de uma bomba atômica, igual àquela mesma que teria sido usada na Segunda Grande Guerra Mundial e que teria dado o retorno da paz ao mundo, pois ela foi usada nas duas cidades japonesas, a de Hiroshima e a de Nagasaki.
Apesar de ter sido muito contestada pela forma brutal do seu uso e emprego em Cidades ainda com alguns habitantes e por ter sido ela responsável, pelo final da Guerra, passou a ser por vista como a responsável direta pela rendição dos alemães e a ser citada durante vários anos e também muito contestada, por várias nações do mundo.
Na minha opinião foi muito mais leve do que as atrocidades cometidas pelo nazismo, diante da maioria do povo judeus, pela covardia, traição e morte de milhares de inocentes, que viviam nos campos de concentração dos nazistas .
Fiquei eu então engajado, em fazer o estágio, que me daria a formação de complementação do meu curso, e, atento ao dia dessa demonstração militar, que envolvia diversos representantes de força de todos os países que faziam parte da América Latina.
Esse convite se prendia a um chamado por ter sido eu convocado e incluído no grupo para servir num regimento militar, que fazia parte do primeiro grupamento tático da ONU, o Regimento Escola de Infantaria, do Rio de Janeiro.
Mas há coisas que me fazem pensar, haja vista que tem vezes na minha história de vida, que fui colocado à prova diante de pessoas e fatos raros, e que tento até hoje poder compreender.
Vejo que sempre são coisas que se tornaram para mim, impossíveis de acontecer a qualquer pessoa.
No dia da mostra da tal explosão, da bomba atômica, era eu parte integrante de um estádio cheio de convidados, de uma extensa parte do mundo, misturado nas arquibancadas.
Eu, junto com aproximadamente oito mil pessoas, pensei e imaginei que estávamos ali para aguardar o evento acontecer, quando os alto-falantes, anunciaram que iam sortear um nome entre todos os que ali estavam para acender a tal Bomba Atômica.
Adivinhem vocês qual foi o nome sorteado para acender o tal pavio.
Nada mais nada menos, que o meu nome, fora gritado pelos alto-falantes do campo de provas.
Eu, muito assustado, levantei-me e olhei de um lado para o outro, conversando com os meus botões - porque eu sou um sujeito marcado nessas horas que temos que suar e tremer? –
O mesmo alto-falante anunciava o que, mais adiante, me foi ditado pelo microfone,ou seja, qual seria a minha rotina e o meu procedimento daquele momento em diante.
Eu e toda a platéia presente ouvíamos atentamente.
As instruções eram as seguintes: - você terá que descer ao campo de provas e se apresentar ao sub-oficial que está lá embaixo lhe aguardando.
Não tema essa operação, pois você estará na companhia daquele homem, que foi o militar agraciado com a medalha de honra ao mérito, por ter sido o maior levantador de campos minados em todo o decorrer da campanha do Exército Brasileiro nos campos de batalha da Itália. Pode ir com toda a segurança junto com ele.
Aí então, eu desci para o campo de provas, nos apresentamos, e ele me disse - tudo será feito com muita calma, vamos andando até bem distante e lá no campo de provas eu vou lhe assessorar no acendimento da bomba, que foi montada com capacidade reduzida e somente para uma demonstração pública. E apontando mais ou menos para onde estava um bastão espetado no solo, ele disse: -você vê o suporte com a bandeira? eu respondi afirmativamente e ele continuou: está a uma distância aproximada de dois mil metros daqui. É lá que vamos acender a bomba.
Concluiu dizendo que seria tudo muito rápido, mas daria tempo de regressarmos até junto das arquibancadas antes do momento da explosão,pois o pavio tinha mais de seis metros, e enquanto ele criava o seu rastro, chegaríamos às arquibancadas para assistir de lá, junto com as pessoas convidadas e todas as autoridades dos outros países, uma explosão inédita aqui na América do Sul.
E assim aconteceu, eu já segurava uma caixa com fósforos, e, de joelhos, nervoso, muito nervoso mesmo, eu tinha uma imensa dificuldade de acender o fósforo, pois no campo aberto, naquele momento, ventava exageradamente. Tive que retirar da cabeça o meu capacete de aço e colocar a caixa com os palitos de fósforo dentro do meu capacete junto à ponta do pavio e sentar-me no chão, pois se assim não o fizesse nunca teria podido acendê-lo.
E no momento que conclui o acendimento, confesso que tive vontade de correr e até ameacei fazê-lo diante daquela grande platéia, que ria do meu temor evidente.
Percebendo minha situação,o velho herói de guerra gritou: - calma rapaz, vamos chegar lá. Dará tempo suficiente para assistirmos a explosão e ainda a formação do famoso cogumelo, que a todos impressionava.
E foi assim que aconteceu. Depois do susto, eu respirei aliviado, e disse para o herói de guerra: - este é um velho trauma de infância, do qual devo ter me livrado agora!

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