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Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

terça-feira, 17 de julho de 2012

Uma Tribuna da nossa Imprensa


Era um dia do mês de setembro de 1976 e eu desembarcava do metrô na estação Carioca, aqui no Rio de Janeiro e me dirigia ao trabalho. Trabalhava nessa época, no mais novo grupo cimenteiro da América Latina, que havia sido inaugurado em 24 de junho daquele mesmo ano.
Era a mais moderna e produtiva fábrica de cimentos aqui instalada , que tinha feito a sua entrada no mercado para lutar e batalhar por uma fatia comercial na demanda brasileira de cimentos, brigando em prol de uma nova concorrência contra as antigas fábricas de um cartel de diferentes grupos produtoreshá muito tempo aqui já estabelecido.
A fábrica tinha o objetivo de ensacar diariamente, seiscentas mil sacas de cimento portland da melhor qualidade em termos da atual produção brasileira.
Aquele dia era um dia de brilho diferente para mim, como um executivo da área de Comércio Exterior, pois seria a primeira grande aquisição que eu faria no esquema de compras de equipamentos técnicos, para implemento da produtividade dessa nova fábrica, recentemente inaugurada.
Aquela compra fazia parte de uma encomenda para o recebimento de um pedido de compra de dez caminhões de apanha de minérios, para operar fora de estradas, a um preço já acertado de cinco milhões de dólares cada um, totalizando assim uma compra de cinqüenta milhões de dólares.
E eu, teria como compromisso, honrar a empresa fabricante de caminhões pesados fora de estrada,com a entrega de uma carta de fiança bancária, uma vez que iríamos financiar aqueles gigantes e raríssimos utilitários, que como já sabíamos, faziam os serviços de alta produtividade junto da nossa tão importante Vale do Rio doce, aqui no Brasil, no expressivo trabalho no transporte de minérios.
E assim eu tinha programado junto com a gerência comercial da SOTREQ, um almoço entre eu e os funcionários daquela equipe de vendas da tão conhecida montadora de veículos pesados do mundo.
A entrega da referida carta de fiança bancária, fornecida por um determinado banco comercial brasileiro, seria num almoço que teríamos na sede do nosso Jockey Club Brasileiro.
Não posso deixar de dizer, que os caminhões já estavam no porto em ILLINOIS, sòmente aguardando a ordem de embarque.
E no dia daquele acontecimento, eu caminhava indo para o trabalho pela rua São José, em direção a sede da empresa e eis que no caminho passo por uma banca de jornais, e vejo a manchete do jornal, A Tribuna da Imprensa, que citava em letras garrafais, e como sempre useira e vezeira de promover assuntos com alusão ao nome do meu digno patrão, um conhecido banqueiro e industrial europeu internacional, o chamando e classificando-o, como um rato de esquema mutinacional e que tentava pelos subterrâneos dos bancos brasileiros, derrubar o nosso sistema financeiro, com as suas tramóias. Nos meandros do artigo citava que o Brasil, estava por ele sendo roubado em negócios junto ao nosso BNDES -uma pura mentira e falsa hipocrisia da nossa imprensa brasileira, pois quem lia aquela manchete era eu, o seu Gerente de Tesouraria no Brasil,que por obrigação era sabedor da falsidade daquela publicação, e que já anteriormente, em publicações mais antigas já teria provocado em nossos escritórios, uma visita constante de procuradores integrantes do nosso Ministério Público.
E pensando com os meus botões, eu caminhava aflito para o meu trabalho, e saberia que teria uma luta interna e externa muito grande e não conseguiria de jeito e maneira alguma derrotar a força daquela indesejável bomba jornalística, aquela maldita manchete.
Eu só pensava na minha cara diante do staff comercial da SOTREQ, e pensava que vergonha seria para o Brasil.
O que vai ser de mim na hora do almoço quando não tiver em mãos a carta de fiança bancaria para entregar?
Mas mesmo assim, não esperei pela chegada do meu patrão, fui a luta, às nove da manhã para me encontrar com a diretoria do referido banco, e em lá chegando o superintendente regional estava cheio de dedos comigo, e me perguntou discretamente se eu tinha visto as manchetes dos jornais, ao que eu confirmei. Como eu já esperava, ele disse que teríamos problemas com a entrega da carta de fiança já prometida, pois a Diretoria do Banco,se recusa a entregá-la com aquela publicação contra nós.
Então, cheio de firmeza, eu disse que queria que a Diretoria do banco, me dissesse aquilo cara a cara, para então eu dar a minha resposta, que eu não sabia se seria a mesma que seria dada pelo meu patrão.
Adentramos a sala da Direção, e depois daquele papo tradicional, do pedido do café e da famosa água gelada e cristalina para todos, o Diretor soltou o verbo dizendo que teria que consultar a Matriz do Banco em São Paulo, e por conseguinte aquela noticia de jornal, ia nos fazer esperar até segunda feira próxima.
De imediato eu disse, que achávamos que íamos encerrar as contas naquele Banco, pois tínhamos um movimento de mais de trezentos milhões de dólares com eles, e os caminhões vendidos já estavam no porto prontos para o embarque, dependendo apenas da carta de fiança e não ficaria nada bem, eu ir almoçar com a gerência comercial da SOTREQ, e não estar de posse da tão aguardada carta de aval do negócio já contratado.
Afirmei que aquela era a minha posição, e não sabia qual seria a do meu patrão, pois ele não admitia qualquer desaforo financeiro que lhe fizessem.
E assim pressionado regressei à empresa e fui direto para a sala da presidência.
Quando o patrão me perguntou sobre a tal carta de fiança, eu disse que a noticia da Tribuna da Imprensa, havia nos atingido profundamente.
E olhou sério para mim e disse, retrucando e chamando a todos os jornalistas de canalhas, quando me afirmou que eles recebiam dólares, do governo de outras nações da Europa, que o invejavam e o perseguiam, para publicarem noticias na imprensa marrom, aqui no BRASIL e no mundo inteiro, contra mim!
E querendo ainda saber qual tinha sido minha resposta para a Diretoria do Banco, eu respondi de pronto, que eu íria imediatamente encerrar todas as contas do grupo de nossas doze empresas, naquele mesmo dia.
E ele respondeu-me, que eu tinha feito muito bem, e completou dizendo para informar a empresa vendedora dos caminhões, que ele ia trazer o dinheiro de fora, e pagá-los à vista, ainda reforçando para que fizesse o pagamento do almoço deles. Garantiu-me que eles ficariam, assim muito felizes com a nossa nova decisão.
E afirmou ainda, que compraria um jornal no Brasil, para fazer parte do grupo de empresas, e poder se defender daquela podridão da imprensa marrom aqui existente, que sempre o cercava e o perseguia e o chateava.
E assim sendo, após decorridos seis meses, eu incluía no rol de nossos controles financeiros, um jornal.
Fonte da imagem:elianebonotto.com

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