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Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

terça-feira, 3 de julho de 2012

O SENHOR NÃO É O TENENTE BANDEIRA?



Era eu um jovem Tenente do Exército, que fazia o meu curso pelo CPOR/ RJ e estava convocado para estágio no REI-Regimento Escola de Infantaria, da Vila Militar, um quartel ligado ao primeiro grupamento tático da “ONU”, pela sua importância e número de oficiais e soldados, que quase chegava a quatro mil homens.
O meu plano, naquela época, era de cumprir a meta de fazer o estágio, como o fiz, desde o tempo de aspirante a oficial e ainda de concluir o direito de promoção ao posto de Segundo Tenente, para futuramente, alçar também o posto de Primeiro Tenente.
Fiz o estágio final e solicitei assim a baixa daquele serviço ativo.
Com a conclusão do estágio, adquiri o direito de, caso algum dia fosse convocado pelo Exército, já estagiaria no posto de Capitão.
Nesse meu momento de vida, no entanto, vivi um dos maiores embaraços, passado nas colunas do meu serviço militar.
Nos anos de 1950, ocorreu um crime no famoso desaparecimento da milionária Danna de Teffee. Segundo a mídia veiculava, estariam envolvidos naquele caso, o advogado particular da vítima, o Dr. Leopoldo Heitor, que diziam ser seu namorado e ainda mais adiante, aquele crime chamado de crime do “Sacopã” ganhou um novo gancho, com a inclusão e o envolvimento, do jovem Tenente Bandeira, um oficial da Força Aérea Brasileira.
Aquela inclusão do Tenente Bandeira, veio indiretamente a me atingir profundamente, pois eu era naquela época, mais ou menos da mesma faixa etária dele, haja vista que ele tinha uns três anos a mais do que eu.
O agravante era que, fisicamente, éramos muito parecidos, inclusive os dois mantinham o bigodinho fino e a farda ainda nos tornava mais idênticos, embora nossas armas fossem diferentes – ele da força aérea e eu do exército.
Foram muitas as vezes em que eu, saindo do quartel fardado, para pegar o trem na estação, várias pessoas gritavam na minha direção chamando o Tenente Bandeira, firmando que eu havia fugido da cadeia.
No Centro da Cidade, então, era o maior sofrimento. Os repórteres das emissoras de rádio em trabalho externo nas ruas, me perseguiam, me fazendo provar através de documentos, que eu não era o procurado e famoso Tenente Bandeira. Só me deixavam em paz quando eu provava que era do Exército e não da Aeronáutica.
Só consegui me desvencilhar daqueles transtornos quando decidi passar em casa na saída do quartel e trocar o fardamento pelas roupas comuns.
Com isso reduzi o assédio, mas foi uma época que me trouxe muito constrangimento, principalmente nas filas dos ônibus, quando um ou outro fazia-me a pergunta: - o senhor não é o Tenente Bandeira?

(Jorge Queiroz - julho/2010)

Fonte da imagem:textosdetherezapires.blogspot.com

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