Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O inacreditável

Já faz muitos anos quando eu me deslocava para casa e a noite já avançava para um novo dia. Encontrava-me numa parada de ônibus e aguardava um coletivo para o bairro onde morava. Cansado de um dia desgastante de trabalho, estava atento à chegada do coletivo, quando fui surpreendido por uma voz que perguntava, num tom forte, quem era o espírito de luz que se encontrava próximo a ele. Olhei para o lado direito e verifiquei a presença de um senhor de altura mediana, bem trajado com terno e gravata e que na mão possuía uma bengala de alumínio dobrável. Aí então, percebi ser o referido senhor, um deficiente visual. Tomado de coragem, perguntei se estava falando comigo. Ele respondeu que sim, pois só estávamos os dois naquela parada. Pediu que eu chegasse mais perto. Eu, muito desconfiado, me aproximei quando ele completou que estávamos indo na mesma direção. Confirmava que eu ia para uma estação antes da dele. Muito surpreso, perguntei como ele sabia tudo o que disse, se sequer me conhecia, além de não enxergar, ao que retrucou, dizendo saber e sentir tudo. Prosseguiu, falando que chegou ao Rio naquele mesmo dia pela manhã, para atender a dois “irmãos” , um no bairro do Grajaú, onde já havia estado, e outro no bairro da Penha, para onde estava seguindo naquele momento. Nada melhor do que irmos juntos no mesmo coletivo, conversando, disse ele tranquilamente. Eu então, ainda curioso, concordei. Finalmente o ônibus chegou, e nós dois embarcamos. Deixei que ele sentasse perto da janela e fiquei atento a tudo o que me dizia. Para minha tranqüilidade , ele iniciou a narrativa dizendo ser o mais alto grau da Fraternidade Eclética Rosa Cruz e que estava numa missão de cura. Já tinha realizado a primeira e se deslocava para realizar a segunda. Informou-me também, que residia no Paraná. Eu, muito preocupado, perguntei se ele não desejava que o acompanhasse até à residência daquele irmão na Penha ao que respondeu, prontamente, que não seria necessário , pois estava ligado mentalmente no caminho certo da casa para onde iria, visto que o beneficiado com a sua visita estava em plena sintonia com ele. Reafirmou que não existia nenhum perigo de ir só e chegar até lá. Continuou descrevendo a sua seita e disse, que talvez eu fosse um dos deles, mas para saber, necessitava levar meu nome para uma reunião entre todos os conselheiros, e submetê-lo a um profundo exame, para posteriormente me informar. Mas mesmo, com uma resposta positiva, disse-me que eu deveria receber uma proposta para preenchimento, mas que só poderia realmente devolvê-la preenchida, no momento em que me achasse absolutamente desobrigado de qualquer tipo de vida material, pois só assim, seria um deles. Nesse momento, quis pegar uma folha de papel para anotar todos os meus dados pessoais, e ele então me surpreendeu mais uma vez, dizendo não haver necessidade, pois gravaria tudo na memória. Assim eu fiz, informando dado a dado, paulatinamente, e me despedi pois já havia chegado a hora de descer do ônibus. Segui para casa quase paralisado , meio que tonto, meio abobalhado, com tudo o que havia vivenciado. Pensei com os meus botões, se aquela resposta chegaria mesmo, pois não passei nada do que disse por escrito. E pasmem! Seis meses depois do ocorrido, recebi em casa a tal proposta para preenchimento, e livros correspondentes a estudo das indicações de todas as personalidades que ao esoterismo estão vinculadas. Confesso que preenchi a tal proposta, mas até hoje, passados mais de trinta anos, não tive coragem de enviá-la.
(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)
Fonte da imagem:universaljoinville.com.br

Um comentário:

  1. interessante e verdadeiro.
    gosto desse tipo de histórias, de cronicas. Meu lado espiritual se anima, cresce e renasce.
    Gostei demais

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