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Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Ruy Barbosa do futebol

Certamente vocês hão de perguntar: - Ruy Barbosa não teria sido aquele jurista que representou o nosso Brasil na Conferência de Haia ?
Não teria sido o deputado e senador? Não teria sido o acadêmico?
Em resposta as suas possíveis perguntas, eu afirmo que nas manchetes esportivas nos anos de 1938 a 1947 se falava muito em Ruy Barbosa. Não aquele que todos conhecemos.
Deparei-me com ele, quando ainda menino, comecei a aprender a ler jornal, instruído por meu pai.
O Ruy Barbosa de que todos os jornais falavam era meu tio e padrinho, João Batista de Siqueira Lima, o chamado “Carreiro”. Naqueles anos de Brasil ele tinha sido contratado pelo Fluminense Futebol Clube como jogador, após o sucesso alcançado no São Cristóvão de Futebol e Regatas.
Em 1938 foi convocado para fazer parte da Seleção Brasileira de Futebol junto aos craques mais famosos da época, como Perácio, Leônidas, Domingos da Guia, Romeu e Russo, para disputar o campeonato sul americano de futebol, pois, naquele ano não realizamos a Copa do Mundo, como habitualmente acontecia de quatro em quatro anos, haja vista que o mundo estava em guerra.
Foi lendo os jornais que vim a descobrir o porquê da mídia o chamar de Ruy Barbosa do Futebol.
Estranhei aquele apelido e indaguei de minha mãe a razão. Minha mãe não só confirmou, como me explicou a semelhança, dizendo que meu tio, no futebol, fazia o mesmo que o Ruy Barbosa na política, dando os nós jurídicos em defesa do Brasil.
Como aquela confirmação não me satisfez, eu insisti para que ela exemplificasse aqueles “nós”.
Minha mãe citou que um deles eram os movimentos labiais que fazia, sem que ninguém percebesse, imitando o som do apito do juiz, enquanto corria com a bola nos pés, causando um grande reboliço em campo, parando os jogadores e, sabedor de que não tinha sido o juiz que havia apitado, seguir na área em busca do gol. Conseqüentemente, quando os jogadores questionavam o juiz sobre o apito e ele negava e atestava a veracidade do gol, ninguém entendia.
Quando minha mãe me passava essas informações, me alertava que eram segredos do futebol e que eu devia desconhecê-los aos olhos das outras pessoas.
Mais tarde, já quase rapaz, pude constatar a grande variedade de artimanhas criadas por ele para ter sucesso no futebol.
A mais famosa delas foi o ato de prender a camisa do goleiro do Flamengo, o Yustrick, no gancho da rede da baliza, no momento de um corner e outra que ninguém esquece foi quando ele angariou para o Fluminense o título de bi-campeão em 1940/1941, na partida decisiva de um FlaxFlu, junto a Lagoa Rodrigo de Freitas, atrasando o jogo, chutando a bola (única na partida) várias vezes para dentro da Lagoa, impedindo assim que o Flamengo dentro daquele tempo estabelecido, alcançasse a busca da vitória. O fato obrigou o Flamengo a colocar seus remadores dentro da Lagoa para em tempo recorde, devolver a bola para o campo. Embora o juiz tentasse compensar aqueles atrasos na partida, na época não existiam os refletores que possibilitam os jogos à noite e assim, com o escurecer a partida se dava como terminada.
O Ruy Barbosa do futebol, devido aos seus vários truques, às vezes desonestos, sempre foi um jogador amaldiçoado pela torcida dos outros clubes, principalmente a do Flamengo.
Danado aquele meu tio!
(Jorge Queiroz, 30/11/10, em ditado)Fonte da imagem:jornalheiros.blogspot.com/2009/10/recordar-e-...

Um comentário:

  1. Valter Duarte Ferreira Filho2 de dezembro de 2010 às 00:41

    Jorge

    Fui vizinho do Carreiro no edifício da Leandro Martins 22, de 57 a 63, quando ele morreu no dia do meu aniversário. Grande amigo de minha família. Surpresa agradável saber que foi seu padrinho. Tenho procurado falar dele para desmentir coisa errada escrita sobre ele no livro O Negro no Futebol Brasileiro. E queria saber como foi a passagem dele pelo Peñarol em 1944, o que até agora não consegui.
    Escreva para mim: valterduarteff@yahoo.com.br
    Abraços
    Valter

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